quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Jogos históricos: Santos x Corinthians - Campeonato Brasileiro 2002

Não há quem não se lembre da grande partida que decidiu o Campeonato Brasileiro de 2002: Corinthians 2 x 3 Santos, no Morumbi. E estes foram os relacionados para a bela virada, final do último Brasileirão com mata-mata até hoje.
Em pé: Alex, Preto, Pereira, Fábio Costa, Renato, Maurinho, Rafael, André Luís e Paulo Almeida.
Agachados: Alexandre, Douglas, Diego, Michel, Robert, William, Léo, Robinho e Elano.

Este jogo ainda está bem fresco na memória dos torcedores santistas. E também de muitos corinthianos. A diferença é que nós é que saímos vitoriosos. Completam-se 8 anos de um grande duelo que marcou o último Campeonato Brasileiro antes da atual Era dos Pontos Corridos. Naquele ano surgia mais uma geração que mereceu o título de Meninos da Vila, com jogadores que, não muito tempo depois, passariam pela seleção nacional, como o zagueiro Alex, o volante Renato, os meias Diego e Elano, e o atacante Robinho. O mesmo time-base acabou vice-campeão da Taça Libertadores no ano seguinte.

Os títulos mais recentes do Santos eram o Torneio Rio-São Paulo de 1997 e a Copa Conmebol de 1998. Com exceção destas duas conquistas, o Peixe não vivia grandes momentos e, por vezes ocorriam derrotas traumáticas. Às vésperas da grande final do Brasileirão '02, ainda estava engasgada a eliminação nas semifinais do Paulistão de 2001, com um gol de Ricardinho que decidia a a partida a favor do rival Corinthians. Era a chance de vingança contra o tradicional adversário.
Era comum, também, falarem num tabu de 18 anos sem títulos, o que não é verdade, uma vez que o tabu durou de 1984 a 1997, portanto o Santos já havia quebrado no Rio-São Paulo a péssima fase de 13 anos sem levantar um caneco de um campeonato oficial.

Este foi mais um duelo que marcou época, foi a consolidação de uma nova geração de craques, que ficará eternizado na memória de muitos torcedores (inclusive eu) e que confirmou tudo o que foi feito no "mata-mata", durante o qual mostramos que éramos melhores, desbancando favoritos e chegando ao tão sonhado título brasieiro, que não era vencido pelo Santos F.C. desde 1968. Os dois jogos da última final de Brasileirão até os dias atuais foram também o auge do último tabu do clássico Santos x Corinthians, no qual o Santos ficou 11 jogos seguidos sem perder para o rival, no decorrer de quase 4 anos. Já em 2002, tal escrita se iniciava, com vitórias santistas por 1x0 pelo Torneio Rio-São Paulo e por 3x1 em um amistoso.


O campeonato:

O Campeonato Brasileiro de 2002 - Série A era composto por 26 clubes, que na primeira fase jogariam entre si em turno único. As oito melhores equipes desta fase passavam às quartas-de-final, posteriormente semifinais e final. A segunda partida dos confrontos eliminatórios era disputada na casa do time de melhor campanha na primeira fase, que também tinha a vantagem do empate na soma dos resultados.
Durante a fase inicial, o Peixe alternou bons e maus momentos. Entre os bons, uma sequência invicta de 8 partidas, na qual goleou o Cruzeiro no Mineirão por 4x1 (resultado este que deixou o Santos na vice-liderança). O bi-mundial também não deu chances ao Flamengo numa convincente vitória por 3x0 e bateu com facilidade o Corinthians por 4x2, com direito a gol de bicicleta de Alberto, no Pacaembu. Este último se tornaria futuramente uma prévia da decisão que estaria por vir (veja vídeo do jogo abaixo):



No decorrer da competição, o time viu seu rendimento cair: no jogo que valeria a liderança do campeonato, o Santos encarou o São Paulo no Morumbi e acabou perdendo por 3x2. Na rodada seguinte, o Peixe perdeu pela primeira vez em casa, pra futuramente rebaixada Portuguesa, por 2x1. Depois, em Belém, a terceira derrota seguida, agora para o Paysandu: 2x1, jogo este que acabou em confusão.
Apesar disso, o Alvinegro estava com a classificação quase certa, a duas rodadas do final. Mesmo perdendo para a Ponte Preta na penúltima rodada (3x1 em plena Vila Belmiro), o Peixe era o sexto colocado e dependia apenas de um empate no último jogo para se garantir no G-8. Recordo-me que eram 99,76% de chances matemáticas de classificação. Porém, o já classificado São Caetano impôs um revés quase fatal: os demais resultados conspiravam para que aqueles insignificantes 0,24% se tornassem realidade, menos um, o jogo que nos salvou: o Coritiba, a esta altura, dependia de uma vitória para passar o Santos; os dois ficariam com 39 pontos, com o Coxa garantindo a última vaga por ter maior número de vitórias. Mas futebol é uma caixona de surpresas e o já rebaixado Gama venceu os paranaenses por 4x0. Como diria o programa Fantástico, da Globo, naquele dia: "Perder e ser feliz". O Santos era o 8º colocado, com 39 pontos, rumo às quartas-de-final, sendo superior ao Cruzeiro (9º) apenas no saldo de gols.
Se na primeira fase, o Santos teve sorte de campeão, no mata-mata, o futebol é que foi de campeão. Nas quartas-de-final o adversário era o líder São Paulo, que sobrou nos pontos corridos (52 pontos), mas não resistiu à decisão de fato: o San-São acabou com duas vitórias santistas, por 3x1 na Vila e 2x1 de virada no Morumbi.
Nas semifinais, o adversário era o Grêmio, 5º colocado na primeira fase (41 pontos). Alberto fez dois gols e Robinho completou o show com um de cobertura. Com o 3x0 na vila mais famosa do mundo, o gol solitário de Rodrigo Fabri no Olímpico não foi o suficiente: faltaram mais dois para os tricolores gaúchos, o Santos chegava à final do Brasileirão.

O Corinthians pretendia repetir no campeonato mais importante do país o sucesso do 1º semestre, quando conquistara o Torneio Rio-São Paulo e a Copa do Brasil. Fez uma boa primeira fase, se classificou com antecedência e completou as 25 rodadas iniciais no 3º posto, com 43 pontos. Nas quartas-de-final, eliminou o sexto colocado Atlético/MG com um 6x2 no Mineirão, com quatro gols de Deivid, e depois um 2x1 no Pacaembu. Nas semifinais, foi mais difícil: perdeu para o Fluminense no Maracanã por 1x0 no jogo de ida, mas na segunda partida, Guilherme fez o hat-trick e o Corinthians venceu por 3x2, se classificando por ter a melhor campanha (o Fluminense foi o 7º colocado, com 40 pontos).


O primeiro jogo:

Àquela altura, o sentimento dos santistas era o oposto daquele do começo da temporada. Um time que começava o campeonato nacional desacreditado e havia formado um elenco cheio de jovens atletas, muitos formados no clube, pensando em se livrar do rebaixamento, estava agora na final. De outro lado, os corinthianos estavam confiantes em um terceiro título no ano.
O Morumbi era o palco dos dois jogos da decisão, que ironicamente reunia os carrascos do São Paulo em 2002.

A primeira partida havia começado embaixo de chuva, mas isso não atrapalhou o espetáculo. O Santos, nos primeiros minutos, já havia criado três oportunidades de gol, e aos 15', um dos heróis do título, Alberto, recebeu belíssimo passe de Diego e tocou no meio das pernas do goleiro Doni, pondo sua marca no placar.
Alberto foi o artilheiro do Santos no Campeonato Brasileiro de 2002, com 12 gols, 4 deles na fase de mata-mata. Foi dele o 1º gol da primeira partida da final.

Aos 28', Guilherme mostrava que não era o dia dele, assim como uma semana depois também não seria. Na primeira chance boa do time da capital, o centroavante mandou por cima. No primeiro tempo, não haveriam outros momentos de destaque, fora o gol bem anulado de Alberto aos 35 minutos, após uma jogada interessante.
No início do segundo tempo, foi a vez do Corinthians partir pra cima. O time de Parque São Jorge levou perigo ao gol defendido por Fábio Costa em algumas oportunidades, dando emoção ao jogo, como aos 14', quando Deivid deu uma meia-lua no zagueiro, mas o arqueiro santista interviu bem. Aos 15 minutos e meio, Robinho recebe de Diego, consegue passar por Doni, mas é desarmado antes que pudesse finalizar. Foi o primeiro grande momento santista na segunda etapa.
O tempo passava e tanto Santos como Corinthians iam tendo oportunidades de mexer o placar, mas em vão. O Peixe começou a crescer novamente no embate: aos 30', Diego quase faz por cobertura; aos 32', após escorregão de Doni, quase a bola entra na cabeçada de Alex. No minuto seguinte, Robinho é puxado dentro da área, mas o árbitro não marca o pênalti claro.
Se nos primeiros 15 minutos pós-intervalo, só dava Corinthians, nos últimos 15 só deu Santos. O time de preto não conseguia mais acertar passes, e o 1x0 parecia cada vez mais o resultado definitivo. Porém aos 43 minutos, Kléber cobra lateral para Fabrício, que dá um presente para Robinho. O menino de 18 anos retribuiu servindo com categoria Renato, que chuta com classe na saída de Doni. A bola ainda toca na trave antes de entrar. Daí já não dava tempo pra mais nada: o Santos revertia a vantagem corinthiana e podia agora até perder por 1 gol de diferença no jogo decisivo.

Confira a ficha técnica do 1º jogo da final:

SANTOS F.C. 2 x 0 S.C. CORINTHIANS P.
Data: 8 de dezembro de 2002
Local: Estádio do Morumbi - São Paulo/SP
Árbitro: Antônio Pereira da Silva
Gols: Alberto aos 15' do 1º tempo e Renato aos 43' do 2º.
Cartões amarelos: Preto, Alberto e Renato (Santos).
Santos: Fábio Costa; Michel, Preto, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. Técnico: Émerson Leão
Corinthians: Doni; Rogério, Fábio Luciano, Scheidt e Kléber; Vampeta, Fabrício e Renato (Leandro); Gil, Deivid (Marcinho) e Guilherme. Técnico: Carlos Alberto Parreira
Melhores momentos:  


Um jogo digno de uma final

Voltamos no tempo há exatos 8 anos e mais algumas horinhas. O país do futebol, que 5 meses e meio antes se tornara pentacampeão do mundo no esporte, presenciava a final de seu principal campeonato nacional. Era o melhor futebol do mundo descobrindo qual era o seu melhor time. Melhor do que uma grande final, era um clássico, e nada mais do que 9 títulos brasileiros em campo.
A missão do Corinthians era dura: vencer por pelo menos dois gols de diferença. Era certeza de entrega até o fim por parte dos jogadores e apoio total da torcida. Já os santistas queriam não só o suficiente para ser campeão, como gostariam de vencer mais um clássico. Desde o princípio, eram os nervos à flor da pele e 75 mil torcedores lotando o Morumbi para uma final épica.
O árbitro era Carlos Eugênio Simon, o mesmo que foi à Copa do Mundo e também quem apitou a final da Copa do Brasil. No duelo dos dois melhores times do país, tinha que ser escalado o melhor árbitro também.

O Santos não podia contar com o seu artilheiro, o atacante Alberto, que estava suspenso com 3 cartões amarelos. William foi quem ficou com a 9. E logo Simon apita o início da peleja, e as coisas começam a ficar piores pro time de Vila Belmiro: aos 10 segundos de jogo, Diego sente uma lesão logo após correr alguns metros e tocar uma vez na bola, logo após a saída. E não dá tempo de se lamentar, pois com 1 minuto de bola rolando, Guilherme dá uma cabeçada fatal, defendida com excelência por Fábio Costa, que passou boa parte daquele campeonato machucado, mas retornou para brilhar na fase final. Por falar em machucado, se dá a saída precoce de Diego. Em seu lugar, entra Robert.
Aos 10 minutos, aconteceu (acredite) a primeira falta do jogo. Robert cobra na área, Alex cabeceia e é a vez de Doni praticar grande defesa. Na sequência do jogo, o que se vê são os times buscando o ataque, mas passes errados, marcações bem feitas e finalizações sem perigo não dão muita empolgação ao jogo. O melhor que se viu na sequência foi um chute de Guilherme de fora da área aos 31', que passou por cima do gol.
Porém as características que tornaram aquele jogo histórico se desenharam passados pouco mais de 35 minutos de jogo: Renato rouba a bola e passa pra Léo, que encontra Robinho aberto pela esquerda. Ele recebe e avança de frente pro gol, até encontrar Rogério. Daí a criatividade e a habilidade de um craque permitem-lhe fazer lances que fiquem gravados para sempre. Robson de Souza, diante do marcador, ficaria a partir dali eternizado pelas suas "pedaladas": passou os pés por cima da bola 8 vezes, quando decidiu, dentro da área, escapar da marcação. Porém, Rogério põe a perna no caminho e derruba o garoto de 18 anos. Pênalti.


Qual ângulo você prefere?

Robinho pegou a bola e a responsabilidade. Naquele momento, não era mais um garoto, ou simplesmente um dos craques do time, mas sim o homem do jogo. A bola estava na marca da cal, Robinho se preparando para bater, Doni esperando no meio do gol. Robinho parte, pé direito na bola e GOL! Bola pra um lado, goleiro pro outro. O Santos abre o placar e o título de campeão está por pouco.
Ao Corinthians agora resta fazer 3 gols. E o time paulistano parte pra cima. São quase 40 minutos, e Fabinho manda uma bomba que passa raspando na trave direita da meta santista. Dois minutos depois, Fábio Costa corta o cruzamento e Gil manda por cima.
O jogo fica mais eletrizante ainda nos últimos segundos da primeira etapa: Vampeta dá um belíssimo passe para Kléber que fica cara a cara com Fábio Costa, que sai com tudo pra defender e ainda consegue chegar à lateral de campo para dar um bicão pra arquibancada. O goleiro santista volta o mais rápido que pode para a sua baliza, enquanto Kléber cobra o lateral para Gil, que no meio de dois marcadores devolve ao lateral-esquerdo. Logo depois vem o cruzamento para Guilherme, que cabeceia para mais uma defesa incrível do goleiro santista. Com três defesas de alto grau de dificuldade, surge mais um nome para ser lembrado daquele inesquecível 15/12/2002.

Fábio Costa teve atuação decisiva na conquista do título.

Começam então os últimos 45 minutos (mais acréscimos) da final. Seria um 2º tempo como poucos no futebol brasileiro. O Corinthians começa no ataque, mas o Santos se aproveita dos erros alheios para tentar um segundo gol que garantiria a taça. Aos 5 minutos, Léo parte na esquerda e cruza para trás, Elano ajeita de cabeça e Robinho dá um toquinho para surpreender Doni de cobertura. A bola vai por cima do gol.
A partida alcançaria contornos ainda mais dramáticos aos 9 minutos, com uma falta próxima ao bico da área. Rogério cobra para Kléber, que ajeita de volta. O cruzamento quase sai, mas Deivid põe a bola de volta na pequena área e Guilherme deixa Gil em plenas condições de empatar a partida, porém o camisa 10 corinthiano chuta longe. Alívio para os santistas, desespero para os corinthianos.
Aos 11', Fabinho dá um tapa na cabeça de Robert na lateral de campo. Leão, como de costume, reclama sem parar da arbitragem e cobra uma atitude do bandeirinha. Após marcar falta próxima à grande área santista, o árbitro Carlos Eugênio Simon expulsa o treinador do Santos. As coisas já não estavam tão fáceis... na cobrança da falta, Rogério chuta com força e a bola ainda dá um desvio em Paulo Almeida; mas com os reflexos em dia, a muralha santista não deixa a bola entrar. Na sequência, Rogério, o homem das bolas paradas do adversário, bate o escanteio e Fábio Costa novamente é obrigado a intervir. O lance também é marcado pela discussão ríspida entre o goleiro, o zagueiro André Luís e o volante Paulo Almeida. Novo escanteio é cobrado logo depois, e Fábio Costa de novo faz uma defesa espetacular.
Dali pra frente o Santos não conseguia mais acertar seus ataques, só conseguia dominar o meio de campo, ao passo que o Corinthians se defendia muito bem e tentava a todo custo pôr a defesa contrária em perigo. Porém, os chutes a gol que saíam iam para todo lugar, menos para o alvo. 
E para colocar mais ingredientes no jogo, aos 27' um torcedor santista eufórico ainda invade o gramado. Jogo parado. Logo depois, o lesionado William deixa o gramado sob gritos de "É Campeão!". A menos de 20 minutos do fim, impossível pensar que no ritmo que o jogo andava o Coringão seria capaz de reagir. Chegávamos a 30 minutos de jogo, e Gil dá um belo cruzamento para Deivid, que finalmente consegue superar a barreira imposta por Fábio Costa. O atacante rapidamente pega a bola para colocá-la no centro do gramado, e pergunta para Parreira o tempo que resta. A resposta: 15 minutos. Começavam os 15 minutos de maior sofrimento que se pode ter em um jogo de futebol.
O tempo corria a nosso favor. Ao mesmo tempo, a defesa peixeira se fechava o máximo que podia. O Corinthians pressionava, e o jogo tinha muitas faltas no setor intermediário. Numa delas, na lateral, alguém pode ter tido um infarto, porque o cruzamento de Vampeta aos 39' incendiaria o Morumbi por intermédio de Anderson. Festa generalizada da Fiel. Até perto da minha casa, em Mongaguá, já se ouviam alguns gritos e fogos de artifício. Já não havia mais nada decidido. E pior: parecia que já tínhamos perdido. Mesmo com a vantagem de 1 gol na soma dos resultados (2x0+1x2=3x2), àquela hora o fantasma do gol no último minuto no Paulistão do ano anterior ainda nos assombrava. Uma derrota de virada, e agora o Corinthians precisando fazer só mais um gol para ser campeão. O que parecia impossível virou quase realidade, os corinthianos vibravam e sonhavam, os santistas agora viviam um pesadelo horrível, chega a ser impossível descrever mais. E só quem viu sabe.
Pra apertar mais ainda o coração, Kléber cobra uma falta pra área, mas o cruzamento é muito mal-feito. Não dá pra imaginar que se passaram só quatro minutos. Pareciam uns quinze, vinte, mas foram só quatro minutos. Este foi o tempo que o time de camisas listradas demorou para transformar nervosismo e apreensão em alegria e festa. Tudo começou com um chutão pra frente de Doni, a bola rebatida por Alex vai parar em Renato, que toca rápido pra Robinho. O "menino-craque", segundo Galvão Bueno, passa pra Elano, que já lhe devolve a bola. O moleque habilidoso escapa do carrinho de Anderson, invade a área pela direita e centra para Elano, que põe fim ao calvário santista. Agora sim, já podíamos ter a certeza de que éramos os campeões, mas as coisas não acabaram por aí.
O juiz também entrou no ritmo da festa. Aos quase 45', Fabrício para Alexandre num lance de extrema violência e descontrole, que só lhe rendeu um cartão amarelo. Aos 46' Léo dá um carrinho e também se livra de uma expulsão. A falta é cobrada e a zaga afasta para escanteio. Rogério o cobra e Alex tira de cabeça. Léo recebe e lança Robinho. O camisa 7 avança e encontra não só a marcação de Vampeta e Kléber, mas também a chance de exibir o futebol-arte. Ele chamou os dois corinthianos para uma dança humilhante, que não poderia acabar de outro jeito: Vampeta desarma, mas a bola sobra para Léo que avança até a entrada da área e define de pé direito, sem chances para Doni: a comemoração é pelo gol, pela bela e emocionante vitória de virada, e pelo sétimo título de campeão brasileiro, o primeiro título do Santos no século XXI, no ano do Penta.

Não demora muito para o campo ser tomado pelos felizes torcedores santistas, que vieram saudar de perto os heróis da conquista.
Veja a ficha técnica e vídeos com os melhores momentos deste grande jogo:
S.C. CORINTHIANS P. 2 x 3 SANTOS F.C.
Data: 15 de dezembro de 2002
Local: Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi) - São Paulo/SP
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Gols: Robinho (de pênalti) aos 37' do 1º tempo; Deivid aos 30', Anderson aos 39', Elano aos 43' e Léo aos 47' do 2º tempo.
Cartões amarelos: Fabinho, Fábio Luciano e Fabrício (Corinthians); Maurinho, Fábio Costa e Léo (Santos).
Corinthians: Doni; Rogério, Anderson, Fábio Luciano e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato (Marcinho); Gil, Deivid e Guilherme (Leandro). Técnico: Carlos Alberto Parreira
Santos: Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, depois Michel); Robinho e William (Alexandre). Técnico: Émerson Leão
Melhores momentos:






Uma final inesquecível, um jogo antológico, um dos maiores jogos que o clássico Santos x Corinthians já viu, um dos títulos mais marcantes da história do clube. Mais uma geração dos Meninos da Vila que superou a descrença dos torcedores e calou os críticos. Superou os seus rivais e alcançou o topo do futebol brasileiro em 2002.
Com o título, o Santos voltaria a disputar a Copa Libertadores após 19 anos.

Robinho carrega o troféu de campeão brasileiro de 2002, conquista mais que merecida


Fonte das fichas técnicas: http://www.bolanaarea.com/brasileirao_2002_tabela_fasefinal.htm

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Jogos históricos: Santos x Fluminense - Campeonato Brasileiro 1995



Este maravilhoso texto do Torero refere-se a épica partida disputada em 10/12/1995 pelas semifinais do Campeonato Brasileiro:


A maior das batalhas por Thorben Knudsen

A Terra
Eu estava lá. E vou contar para meus filhos. Foi uma batalha inesquecível. A batalha de Kiergard não foi mais nobre, a de Frömsted não foi mais sangrenta. Eu estava lá. E vou contar para meus filhos. Naquela tarde o vento não soprou e a Lua ficou parada no meio do céu para olhar a grande luta. Os dois exércitos se enfrentaram sobre a grama verde do verão. Mas depois da batalha o verde tornara-se vermelho, tanto foi o sangue derramado pelos combatentes. Naquele tarde não anoiteceu, porque o Sol não quis se pôr para não perder nenhum lance da grande batalha. Eu estava lá, e vou contar para meus filhos. 


Os Homens
Eu estava lá, e vou contar para meus filhos que, de todos os combatentes, o mais valoroso era o Homem-de-Cabelos-Vermelhos. Ninguém corria como ele, ninguém se esquivava dos golpes dos adversários como ele, ninguém matava como ele. E naquela tarde ele fez sua melhor luta. Naquela tarde, o Homem-de-Cabelos-Vermelhos, que já ídolo, quase virou Deus. Mas havia outros, havia muitos outros. Na retaguarda, como última esperança, como último homem a defender a bandeira, estava o Príncipe-de-Cabeça-Sem-Pelos, o filho do Rei. E no flanco esquerdo havia o Anão-Gigante, ágil como um coelho, esperto como uma raposa e traiçoeiro como um rato. Mas havia outros, havia muitos outros. Havia um com o nome de Galo, mas que merecia ser chamado de Tigre, outro a quem chamavam Pequeno-Carlos, mas que devia ser chamado Carlos-Gigante, e um de nome Passos, mas que dava saltos. E ainda havia Marcos, que tem o nome no plural porque aparece em vários lugares ao mesmo tempo. Eu vi todos estes homens, e vou contar para meus filhos. 


A Luta
A missão destes homens era quase impossível. Eles tinham que derrubar três vezes a bandeira inimiga. Não uma nem duas, mas três. Parecia impossível, mas "impossível" era uma palavra que esses guerreiros não sabiam falar (principalmente Macedo, o gago). E já na primeira metade da luta a bandeira inimiga havia ido ao chão duas vezes. O Homem-de-Cabelos-Vermelhos já havia feito parte do milagre. Houve então uma trégua. Os inimigos, vestidos de verde, se recolheram para descansar, beber água feito mulheres e orar por melhor sorte. Mas os homens de branco não. Os homens de branco ficaram no campo de batalha. Há quem diga que eles ficaram lambendo o sangue dos inimigos que havia caído pela grama, mas isso eu não vi. E o povo dos guerreiros de branco gritava e urrava. Então, na segunda metade do combate o milagre aconteceu por completo. Mesmo com menos homens, o exército de branco derrubou mais uma vez a bandeira inimiga. E outra, e mais uma. E no final da luta a bandeira dos homens-de-verde já havia caído cinco vezes. E quando a guerra acabou o povo de branco andava de joelhos, se abraçava e se beijava. Homens que não se conheciam cumprimentavam-se como irmãos e cantavam hinos de guerra. E os guerreiros foram para o meio do campo da batalha e deram-se as mãos. Então o Homem-de-Cabelos-Vermelhos ficou no meio do círculo e levitou até a altura de um pinheiro. E seus cabelos pegaram fogo e só então, com inveja, o Sol se pôs. Eu estava lá, e vou contar para meus filhos.

JOSÉ ROBERTO TORERO, jornalista da Folha de São Paulo, santista de coração.



Aconteceu há exatos 15 anos. Aquele 10/12/1995 ainda estará marcado nas lembranças de muitos torcedores, até mesmo aqueles que não presenciaram tal epopéia. Não é meramente por causa do placar, afinal um 5x2, mesmo num time forte como o Fluminense campeão carioca naquele ano, não seria algo tão digno de atravessar anos e quem sabe gerações. Inclusive dá para dizer que aquele jogo talvez tenha marcado mais que a própria final, mais lembrada pelos erros decisivos da arbitragem do que pela partida em si.
O jogo é considerado uma das maiores viradas não só do Santos Futebol Clube como talvez do futebol brasileiro. E pelo fato de termos mais história para contar deste confronto do que às vezes de um campeonato inteiro, este post será dedicado à épica semifinal do Campeonato Brasileiro de 1995, na qual o Peixe eliminou o Tricolor Carioca quando tudo já parecia impossível.



O Campeonato:

Em 1995, o Campeonato Brasileiro era composto por 24 clubes. Na fase inicial, os times eram divididos em dois grupos de 12 times, jogando todos contra todos em dois turnos: no primeiro turno, os times jogavam entre si dentro de seus grupos, e as equipes que terminassem em primeiro lugar nos respectivos grupos garantiam uma vaga na semifinal. No segundo turno, os adversários eram os times do outro grupo, e os clubes que terminavam em 1º no grupo se classificavam também as semifinais. Os cruzamentos das semifinais ocorreram entre os times que estavam no mesmo grupo.
O Peixe entrou no Grupo B e durante o 1º turno, o Santos não se saiu tão bem, terminando como o 3º colocado do grupo, com 19 pontos, contra 21 do líder Fluminense, que se classificou por ter 1 gol a mais de saldo do que o vice-líder Internacional. Já no 2º turno, o Alvinegro praticou uma campanha impecável, com 8 vitórias e somente 1 derrota em 12 jogos. Terminou em primeiro, com 27 pontos, se tornando o adversário do Flu nas semifinais. No Grupo A, os classificados para a outra semifinal foram Cruzeiro e Botafogo.
Ao mesmo tempo, o time que fizesse a pior campanha do seu grupo somando os dois turnos era rebaixado à Segunda Divisão. Assim o Paysandu (pelo Grupo A) e o União São João (Grupo B) que sofreram o descenso.

O time de melhor campanha se tornava o mandante do jogo de volta das semifinais e também tinha a vantagem do empate no placar agregado da fase. O clube carioca havia somado 34 pontos na 1ª fase, enquanto o Santos totalizou 46 pontos nos mesmos 23 jogos, ou seja, um aproveitamento de 66,7% que foi não só o melhor do grupo como o melhor entre todos os clubes do campeonato. O alvinegro praiano também tinha o melhor ataque da competição, com 44 tentos assinalados. Assim, obviamente, o Peixe tinha uma merecida vantagem sobre o time verde, grená e branco.


O primeiro jogo:

A primeira partida entre os dois times estava marcada para o dia 7 de dezembro, uma quinta-feira, no Maracanã; o Fluminense tinha o fator casa a seu lado. Enquanto os paulistas tinham a seu lado Giovanni, que vinha dando show em várias partidas do campeonato, o Fluminense tinha um jogador experiente a seu favor: o atacante Renato Gaúcho, que havia decidido com seu famoso gol de barriga a final do Campeonato Carioca do mesmo ano, contra o arquirrival Flamengo.
Pouco mais de três meses antes, Flu e Santos tinham se enfrentado no mesmo Maracanã, com vitória dos cariocas por 1x0. Assim, era fácil imaginar que o jogo teria um placar apertado, da mesma maneira que não havia como apontar um favorito à vaga na final do Brasileirão. Aí sim, fomos surpreendidos novamente...

O Santos começou melhor o primeiro tempo, criando mais chances, até que numa infelicidade da defesa do time da casa, Giovanni tabelou na área e tocou na saída do goleiro Wellerson, inaugurando o marcador. O placar pré-intervalo dava uma confortável situação aos santistas. Dava. A segunda etapa começou e o Fluminense veio arrasador. Logo aos 5 minutos, Aílton bate escanteio e a bola sobra para o artilheiro Renato colocar no fundo das redes. Mais tarde a virada sai, com um gol de pênalti de Ronald. A essa altura o Santos era obrigado a vencer o jogo de volta, o que estava naturalmente dentro de qualquer possibilidade, uma vez que o Peixe jogaria diante de sua torcida.
As coisas daí pra frente só pioraram: os santistas Jamelli e Robert foram expulsos e, com dois a menos, a representação tricolor passou a mandar no jogo. Ciente da oportunidade que tinha, o técnico Joel Santana não abriu mão da ofensividade e trocou o "pendurado" zagueiro Sorley pelo centroavante Gaúcho. Só pressão por parte dos cariocas, concretizada em gol aos 45 minutos, graças a Leonardo, que aproveitou rebote de Edinho. O que já era ruim ficou pior: logo depois, Cadu dribla o arqueiro santista para acabar a partida em goleada. Um desastre inacreditável.

Confira a ficha técnica do jogo:

FLUMINENSE F.C. 4 x 1 SANTOS F.C.
Data: 7 de dezembro de 1995
Local: Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro/RJ
Árbitro: Antônio
Gols: Giovanni no 1º tempo; Renato Gaúcho (5'), Ronald (de pênalti), Leonardo (45') e Cadu no 2º tempo
Cartões amarelos: Sorley (Fluminense) e Giovanni (Santos)
Cartões vermelhos: Robert e Jamelli (Santos)
Fluminense: Wellerson; Ronald, Lima, Sorley (Gaúcho) e Cássio; Vampeta, Otacílio, Aílton e Rogerinho (Leonardo); Renato Gaúcho e Valdeir (Cadu). Técnico: Joel Santana
Santos: Edinho; Marquinhos Capixaba (Macedo), Narciso, Ronaldo Marconato e Marcos Adriano; Gallo, Vágner, Robert, Marcelo Passos (Pintado) e Giovanni; Jamelli.
Vídeo: 


Santos, o time da virada! | Reação fantástica | Missão impossível cumprida | Jogo de tirar o fôlego | Escrevendo mais uma página de glórias na história:

Para falar deste jogão cabem vários títulos. Você pode escolher qualquer um deles, ou acrescentar uma denominação diferente. É um daqueles momentos no qual, mais do que nunca, temos orgulho de ser santista.
E, mesmo com a classificação praticamente garantida ao Fluminense, mais de 28 mil torcedores foram ao Pacaembu ainda acreditando que era possível. Não se arrependeram...

O Santos, para chegar à final, precisava derrotar o Fluminense por pelo menos três gols de diferença, algo quase impossível. As coisas conspiravam contra o glorioso alvinegro praiano, a começar pelo retrospecto dos confrontos entre os dois times: nunca o Santos havia vencido o Flu por mais de dois gols de diferença em campeonatos nacionais. O Fluminense também não tinha perdido por placares assim durante o ano todo. Em resumo, um resultado feliz para o Peixe contrariava a lógica. Além disso, o Santos não podia contar com os titulares Robert e Jamelli, suspensos.
O elenco, por incrível que pareça, não se abateu e acreditou que era possível reverter o placar construído pelo time carioca apenas três dias antes. Sim, o jogo de volta estava previsto para acontecer no dia 10 de dezembro de 1995, apenas três dias depois do 4x1 que culminou com uma festa dos torcedores adversários no Rio.
É nessas horas que se conhece a capacidade de um time. Nessas horas que jogadores saem dos gramados para a história. Foi neste jogo que um certo camisa 10 de 23 anos, cabelos vermelhos e 1,90 m de altura se firmaria como o maior ídolo santista daquela geração. Se Giovanni Silva de Oliveira era o artilheiro e considerado o melhor jogador do Santos F.C. naquele Brasileirão, naquele fim de tarde de domingo ele se eternizaria como o Messias.
G10vanni busca a bola após converter o pênalti que abriu as portas para a heróica goleada santista.

Claro que não foi só o meia-atacante que teve uma atuação memorável: ele sintetizou a garra e a técnica que jogadores como Macedo, Camanducaia, Marcelo Passos, Marcos Adriano, Gallo, Capixaba e outros desempenharam para que o sonhado placar se transformasse em realidade.
Veja só a seguir o vídeo com o início da transmissão pela Rede Globo do jogo histórico. Sinta o calor da torcida e um pouco da expectativa pela decisão que seguiria dali pra frente:

Você também poderá saber quem foram os 11 guerreiros santistas que adentraram o campo na voz de Galvão Bueno. Os nomes dos massacrados também aparecem no vídeo abaixo:


Enfim, podemos enfim falar do grande jogo. A bola rolava no Pacaembu e logo nos primeiros minutos, o Santos era todo ataque, obrigando o goleiro tricolor Wellerson a trabalhar. Pouco mais tarde, Renato Gaúcho tem uma chance de ouro de abrir o placar e matar de vez as chances santistas de classificação. Porém, ao que parece, o atacante do Flu "pipoca" e demora para chutar; no momento da conclusão, Marcos Adriano dá um carrinho e evita o gol. O tempo corria a favor do Fluminense, e passaram-se 25 minutos até Camanducaia receber lançamento e entrar na área pela esquerda e fazer o lateral Ronald se atrapalhar todo; o camisa 11 avançou até ser derrubado por Otacílio. Pênalti!
E a cobrança parece, para quem tem uma memória fotográfica (ou melhor, cinematográfica), um replay, uma cobrança clássica eternizada por outros jogadores que vestiram o mesmo manto sagrado: pé direito, de chapa, bem batido no canto esquerdo do goleiro, que quase alcança a bola. Assim Dalmo marcou o gol que valeu o bicampeonato mundial em 1963. Assim Pelé marcou em 1969 seu milésimo gol. Assim Giovanni abriu caminho para um importantíssimo resultado.
A torcida já sabia que "impossível" não existia. Empurrou o time pra cima. Aos 29 minutos, de novo a figura de Giovanni se destaca. Carlinhos avança pelo meio e toca para o camisa 10. Era de se esperar uma tabela, mas o craque põe a bola na frente e rapidamente define, de bico logo na entrada da área, no exato momento em que um tricolor aparecia com um carrinho, a esta altura inútil: a bola vai pelo alto, à esquerda do goleiro, que não consegue reagir e apenas assiste a um milagre se concretizando. O Santos já faz 2x0, e o placar agregado já apontava 4x3 para o Fluminense... só faltava mais um!
A fúria dos guerreiros santistas se fazia sentir em certos momentos. Uma raça fora do comum pôde ser observada quando Marcos Adriano voa para salvar uma bola que Edinho já havia defendido e que sairia pela linha de fundo. Mas quem frearia a vontade daqueles jogadores?
Quase que o gol da classificação saiu ainda no 1º tempo. Duas bolas na trave e uma cobrança de Marquinhos Capixaba que passou muito perto mostrariam que os 45 minutos seguintes não seriam muito diferentes do que se viu até então. O árbitro Sidrack Marinho apitou o fim da 1ª etapa, dando uma pausa no ritmo alucinante da partida.

O que se viu no intervalo foi algo completamente diferente: enquanto os jogadores do Fluminense seguiam ao vestiário como se procede normalmente, os homens de branco permaneceram no gramado, com o objetivo de sentirem o calor da torcida que acreditava na reação que se desenhou na primeira metade de jogo. A energia captada da torcida renderia um segundo tempo emocionante.

Enfim começa a segunda metade do jogo. Continua o show de Giovanni e da equipe alvinegra. Aos 5 minutos, Marcelo Passos recebe um presente do adversário e rola pra G10vanni, que rapidamente rola para Macedo que, dentro da área, se livra do marcador e chuta no meio do gol, o suficiente para derrotar o mal-posicionado Wellerson. A missão impossível já estava concretizada: Santos 3 x 0 Fluminense.
Mas é claro que as coisas não seriam assim tão fáceis. Imediatamente após o gol da classificação momentânea do Santos, sai uma falta a favor dos visitantes. A bola é alçada na área, e após disputas no alto e no chão, sai a finalização no travessão, e o rebote sai na cabeça do meia Rogerinho, que desconta o placar, dando agora a classificação ao Flu. A partida agora passava a ter contornos cada vez mais dramáticos...
A espera pelo quarto gol não foi tão longa: apenas nove minutos se passaram até Capixaba dar um lançamento para Giovanni. Este, numa inspiração única, avançou em velocidade máxima diante do estabanado Alê, que perto da área, erra a bola e chuta por trás a perna de Giovanni. O camisa 10 parecia imune à dor, pois chegou a linha de fundo e só parou diante do goleiro; na sequência, a bola rebate e cai no meio da pequena área. O dia era mesmo alvinegro, pois a bola veio de presente pra Camanducaia que disparava por ali e concluiu para o gol vazio. O atacante ainda saiu em comemoração ao redor da bandeirinha de escanteio, enquanto o homem-de-cabelos-vermelhos ainda vibrava pelo tento, e desabava em virtude do golpe recebido quando a bola ainda rolava. Sim, ele era humano. Àquela altura, os times estavam quites: 4x1 pro Fluminense no Rio, 4x1 pro Santos em Sampa. Melhor para nós, que tínhamos a vantagem de tal empate.
A expulsão de Ronaldo era a esperança do time carioca, porém o Peixe continuou com força máxima, resistindo ao adversário. O tempo, que tinha tudo para ser inimigo, virou nosso aliado. E quem antes era confiante, virou desesperado. O Fluminense, por mais que tentasse chegar ao ataque, não conseguia cumprir o objetivo de conseguir o sonhado gol de classificação, ameaçando pouco a meta santista. Assim, aos 37 minutos, foi dado o golpe de misericórdia: Giovanni (sempre ele) estava cercado por três, mas ele viu a passagem de Marcelo Passos e tocou de calcanhar, de maneira desconcertante. O passe foi perfeito, e ainda deu tempo do camisa 9 ajeitar e mandar uma bola perfeita, com curva, sem chance alguma para Wellerson. A classificação à final, com o 5x1, era mera questão de tempo.
Pena que o tempo não passou muito, e o coração novamente apertou logo aos 39', quando numa bola alçada à área, a defesa do Santos dá bobeira e aparece novamente Rogerinho, que vira e chuta cruzado no canto esquerdo do Filho do Rei, diminuindo a goleada. Mesmo assim, o placar ainda favorecia o Peixe.

Mesmo com a tentativa de pressão do Fluminense, não deu mais tempo. O árbitro apita o fim de jogo e só restou aos atletas comemorar a vitória heróica.

Confira a ficha técnica do jogo histórico:

SANTOS F.C. 5 x 2 FLUMINENSE F.C.
Data: 10 de dezembro de 1995
Local: Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu) - São Paulo/SP
Árbitro: Sidrack Marinho dos Santos
Cartões amarelos: Marcos Adriano, Ronald, Carlinhos e Aílton
Cartão vermelho: Ronaldo Marconato
Gols: Giovanni aos 25' (de pênalti) e aos 29' do 1º tempo; Macedo aos 5', Rogerinho aos 7', Camanducaia aos 16', Marcelo Passos aos 37' e Rogerinho aos 39' do 2º tempo.
Santos: Edinho; Marquinhos Capixaba, Narciso, Ronaldo Marconato e Marcos Adriano; Carlinhos, Gallo, Giovanni e Marcelo Passos (Pintado, depois Marcos Paulo); Camanducaia (Batista) e Macedo. Técnico: Cabralzinho
Fluminense: Wellerson; Ronald, Lima, Alê (Gaúcho) e Cássio; Vampeta, Otacílio, Aílton e Rogerinho; Renato Gaúcho e Valdeir (Leonardo). Técnico: Joel Santana
Vídeo:




O vídeo abaixo contém reportagens da época, e uma delas fala sobre o inacreditável intervalo de jogo em que os heróicos jogadores permaneceram no gramado; além, é claro, dos melhores momentos da peleja:




Com este resultado, o Santos conseguiu chegar à final do Campeonato Brasileiro de 1995, contra o Botafogo, que empatou os dois jogos contra o Cruzeiro. Não há dúvidas que o Alvinegro da Vila Belmiro merecia ser o grande campeão aquele ano...



Fontes:
http://201.7.184.25/campeonatos/campeonato-brasileiro/1995/12/07/fluminense-4-x-1-santos
http://joserenato.midiasemmedia.com.br/?p=1421
http://www.rsssfbrasil.com/tablesae/br1995.htm

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

1962: O Santos F.C. conquista a América

Em 1962, já não se havia dúvidas de qual era o melhor clube do Brasil. O campeão brasileiro não teve muita folga; apenas 11 dias depois de golear o Bahia na final da Taça Brasil de 1961, o Alvinegro já estava no Equador vencendo o Barcelona S.C., de Guayaquil, por 6x2. O time desfilou, naquele início de ano, pelos gramados sul-americanos com um objetivo em mente. Depois de alcançar a hegemonia estadual e de se firmar como campeão da principal competição nacional, o time agora almejava vôos maiores: o clube já se tornava campeão de diversos torneios amistosos disputados na Europa e América Latina, e agora o Santos Futebol Clube podia conquistar seu primeiro título internacional oficial: a Copa Libertadores da América de 1962. Para não repetir o fracasso do Bahia em 1960 (eliminado na fase inicial pelo San Lorenzo, da Argentina) e também não ficar no "quase" como o Palmeiras (que perdeu na decisão para o Peñarol, do Uruguai) na edição anterior, o elenco circulou pelo continente e teve 8 vitórias, 1 empate e 1 derrota diante de algumas das melhores equipes dos países visitados, entre elas o campeão argentino Racing, que foi goleado por 8x3.

A Taça Libertadores (que nasceu com o nome de Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões, depois foi rebatizada com o nome do troféu) teve sua primeira edição em 1960, e tinha (como tem até hoje) o objetivo de determinar o campeão sul-americano. Também tinha como objetivo inicial credenciar o clube campeão à disputa do Mundial Interclubes, que havia sido criado no mesmo ano numa parceria da FIFA com a CONMEBOL e a UEFA, que organizava desde 1955 a Copa dos Campeões Europeus (atualmente conhecida como Liga dos Campeões da Europa). A Libertadores foi criada nos mesmos moldes do campeonato europeu, envolvendo nas suas primeiras disputas apenas os campeões nacionais.
Na sua primeira edição, sete países foram representados, entre eles o campeão brasileiro de 1959, o Bahia. O campeão acabou sendo o uruguaio Peñarol. Na segunda edição, todos os nove países filiados tinham seus campeões inscritos no torneio, que foi vencido novamente pelo Peñarol, que venceu o Palmeiras na decisão.

A terceira edição da Taça Libertadores da América teve 10 participantes: eram os nove campeões nacionais do continente em 1961, além do campeão continental do mesmo ano, o Peñarol. Este já entrava nas semifinais, enquanto os demais clubes eram distribuídos em três grupos, cada um com três times. Os vencedores dos respectivos grupos se classificavam às demais vagas na fase semifinal. Nas semifinais e final, seguia-se o modelo que era reproduzido, inclusive, na Taça Brasil: eram disputados dois jogos, e quem somasse mais pontos se classificava (ou, no caso da final, era o campeão). Em caso de empate no número de pontos, era jogada uma partida de desempate em campo neutro. Caso esta partida terminasse sem vencedor, mesmo após a prorrogação, o primeiro critério de desempate era o saldo de gols.

Assim, o Santos entrou no Grupo 1, com o Deportivo Municipal, da Bolívia, e o Cerro Porteño, do Paraguai. Apenas 9 dias depois de jogar sua última partida pela excursão citada no primeiro parágrafo, o time brasileiro estreou vencendo na altitude de La Paz, por 4x3, e na rodada seguinte despachou os bolivianos com um 6x1. Ao enfrentar o campeão paraguaio, o Alvinegro teve dificuldades no jogo disputado em Assunção, que terminou empatado. Porém, na Vila Belmiro, o Santos dependia de um empate para se classificar, mas deu um show e conseguiu aquela que é sua maior goleada em um campeonato internacional: um sonoro 9x1, que até hoje aparece no top 5 das maiores goleadas da Copa Libertadores.
Nas semifinais, a parada foi mais difícil: num jogo disputado em Santiago (Chile), Santos e Universidad Católica ficaram no 1x1. No jogo de volta, Zito marcou o tento solitário que levou o clube da Baixada Santista à final. O seu adversário? Era o campeão mundial de 1961, um time das cores amarela e preta, que havia simplesmente vencido as duas edições do certame continental disputadas até então e na terceira edição chegava à terceira final: era o Club Atlético Peñarol, sem dúvida outro que foi um dos maiores do mundo naqueles anos 60.
No primeiro jogo, que aconteceu em 28 de julho, o Peixe não tinha Pelé, machucado. Mesmo com o estádio Centenário repleto de fanáticos torcedores do Peñarol, o Santos não se intimidou e venceu de virada com dois gols de Coutinho.
No jogo de volta, cinco dias depois, o Santos tinha o famoso Alçapão da Vila a seu favor, mas saiu atrás com um gol do equatoriano Spencer, mas virou ainda no 1º tempo com Dorval e Mengálvio. Porém, no 2º tempo, o time uruguaio iniciou uma reação impressionante e aos 6 minutos já estava 3x2 para os aurinegros. O terceiro gol do Peñarol provocou reações hostis da torcida santista e, temerosos com a segurança, a arbitragem preferiu manter a partida em disputa até o fim do jogo, mas na prática já não valia mais nada. Pagão ainda havia feito o gol de empate aos 32', e o resultado dava o título ao Santos, com muita festa dos adeptos alvinegros e volta olímpica dos jogadores. Este jogo foi mais um daqueles episódios que merecem o título de "Noite das Garrafadas": mais adiante explicitarei mais detalhes sobre o ocorrido.
Porém as coisas não acabaram por aí. Dois dias depois, foi divulgado que o jogo havia durado 51 minutos apenas, e que o Peñarol, portanto, seria o vencedor da partida. Não restou outra opção: no histórico 30 de agosto de 1962, no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, o Santos massacrou o adversário sem piedade e destruiu os sonhos do tricampeonato rival. Logo aos 11 minutos de bola rolando, Coutinho bateu cruzado e o defensor Caetano completa contra a própria meta. No segundo tempo, o recuperado Edson Arantes do Nascimento completou o espetáculo, marcando o segundo gol já aos quatro minutos. No finalzinho, o mesmo Pelé recebe passe de Coutinho, mata no peito e chuta com força para fechar o placar. O Santos F.C. era pela primeira vez campeão da Copa Libertadores da América e se tornava o primeiro clube brasileiro a conquistar um campeonato internacional.

Seguem listados os clubes que participaram da Taça Libertadores de 1962:

  • C.A. Peñarol (Uruguai)
  • Club Deportivo Municipal (Bolívia)
  • Club Cerro Porteño (Paraguai)
  • Santos F.C. (Brasil)
  • Club Nacional de Fútbol (Uruguai)
  • Club Sporting Cristal (Peru)
  • Racing Club (Argentina)
  • C.D. Universidad Católica (Chile)
  • C.D. Los Millonarios (Colômbia)
  • C.S. Emelec (Equador)

Seguem agora os jogos da 3ª edição da principal competição sul-americana, com fichas técnicas de todos os jogos do Santos:


1ª fase:

Grupo 1

11/02/1962  Deportivo Municipal 2 x 1 Cerro Porteño
15/02/1962  Cerro Porteño 3 x 2 Deportivo Municipal

18/02/1962  Deportivo Municipal 3 x 4 Santos
Local: Estádio Hernando Siles - La Paz/Bolívia
Árbitro: Airton Ayres Abreu
Gols: Aguilera, J. Torres e Ruiz Díaz (DM); Lima, Mengalvio, Pagão e Tite (S)
Deportivo Municipal: Solís; Jorge Montes, Vargas e Di Lorenzo; Zenteno e Alcócer; A. Torres, Aguirre (Ruiz Díaz), Roberto Caínzo, J. Torres e Luis Aguilera.
Santos: Laércio; Getúlio, Olavo e Zé Carlos; Lima e Calvet; Dorval, Mengalvio, Pagão, Pelé e Osvaldo (Tite). Técnico: Lula

21/02/1962  Santos 6 x 1 Deportivo Municipal
Local: Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) - Santos/Brasil
Árbitro: Alberto Tejada
Gols: Dorval [2], Pagão [2], Coutinho e Pepe (S); Alberto Torres (DM)
Santos: Laércio; Lima, Olavo e Getúlio; Zito e Formiga; Dorval, Mengalvio, Pagão, Pelé (Coutinho) e Pepe. Técnico: Lula
Deportivo Municipal: Solís; Jorge Montes, Vargas e Di Lorenzo; Zenteno e Alcócer; Alberto Torres, Aguirre, Roberto Caínzo (Ruiz Díaz), J. Torres e L. Aguilera

25/02/1962  Cerro Porteño 1 x 1 Santos
Local: Puerto Sajonia (hoje Defensores del Chaco) - Assunção/Paraguai
Árbitro: Luis Ventre
Gols: Cabrera e Dorval
Cerro Porteño: Pérez; Cantero, Monges, Breglia, Monín, D. Martínez, Pavón, Insfrán, A. Jara, P. Rojas e Cabrera.
Santos: Laércio; Lima, Olavo e Getúlio; Zito e Calvet; Dorval, Mengalvio, Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. Técnico: Lula

28/02/1962  Santos 9 x 1 Cerro Porteño
Local: Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) - Santos/Brasil
Árbitro: Jose Luis Praddaude
Gols: Coutinho [3], Pelé [2], Pepe [2], Dorval e Zito (S); A.  Jara (CP).
Santos: Laércio (Silas); Lima, Olavo e Getúlio; Zito e Calvet; Dorval, Mengalvio, Pagão (Pelé), Coutinho e Pepe. Técnico: Lula
Cerro Porteño: Pérez; Cantero, Monges, Breglia, Monín, D. Martínez, Pavón, Insfrán, A. Jara, P. Rojas, Cabrera.

Classificação final:


Grupo 2

10/02/1962  Nacional 3 x 2 Sporting Cristal
14/02/1962  Racing 2 x 1 Sporting Cristal
17/02/1962  Sporting Cristal 0 x 1 Nacional
20/02/1962  Sporting Cristal 2 x 1 Racing
24/02/1962  Nacional 3 x 2 Racing
27/02/1962  Racing 2 x 2 Nacional

Classificação final:



Grupo 3

07/02/1962  Emelec 4 x 2 Millonarios
10/02/1962  Universidad Católica 3 x 0 Emelec
14/02/1962  Universidad Católica 4 x 1 Millonarios
18/02/1962  Millonarios 1 x 1 Universidad Católica
21/02/1962  Emelec 7 x 2 Universidad Católica
28/02/1962  Millonarios 3 x 1 Emelec

Classificação final:


Semifinais:

08/07/1962  Universidad Católica 1 x 1 Santos

Local: Estádio Nacional - Santiago/Chile
Árbitro: Alberto Tejada
Gols: Nawacki e Lima
Expulsão: Luís Clivares (UC)
Universidad Católica: Behrends; Barrientos, Villarroel, Sérgio Valdés, Clivares, Rivera, Pesce, Juan Nawacki, Alberto Fouilloux, O. Ramírez e Ibáñez.
Santos: Gilmar; Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Tite, Mengálvio, Pagão e Pepe. Técnico: Lula

12/07/1962  Santos 1 x 0 Universidad Católica
Local: Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro) - Santos/Brasil
Árbitro: Alberto Tejada
Gol: Zito
Santos: Gilmar; Lima, Mauro e Calvet; Zito e Dalmo; Dorval, Mengalvio, Pagão, Cabralzinho (Tite) e Pepe. Técnico: Lula
Universidad Católica: Walter Behrends; Eleodoro Barrientos, Washington Villarroel, Jorquera, Sérgio Valdés, Hugo Rivera, Osvaldo Pesce, Juan Nawacki, Alberto Fouilloux, Orlando Ramírez e Fernando Ibánez.

08/07/1962  Nacional 2 x 1 Peñarol
18/07/1962  Peñarol 3 x 1 Nacional
22/07/1962  Peñarol 1 x 1 Nacional


FINAL:

C.A. PEÑAROL 1 x 2 SANTOS F.C.
Data28 de julho de 1962
Local: Estádio Centenário - Montevidéu/Uruguai
Árbitro: Carlos Robles
Gols: Spencer aos 18' e Coutinho aos 28' do 1º tempo; Coutinho aos 15' do 2º tempo.
Peñarol: Luis Maidana; Juan Vicente Lezcano e Núber Cano; Edgardo González, Roberto Matosas e Omar Caetano; Pedro Rocha, José Sasía, Cabrera (Moacyr), Alberto Spencer e Juan Joya. Técnico: Bela Guttman
Santos: Gilmar; Mauro, Calvet e Lima; Zito e Dalmo; Dorval, Mengalvio, Pagão, Coutinho e Pepe (Osvaldo). Técnico: Lula

SANTOS F.C. 2 x 3 C.A. PEÑAROL
Data2 de agosto de 1962
Local: Estádio Urbano Caldeira - Santos/Brasil
Árbitro: Carlos Robles
Gols: Spencer aos 15', Dorval aos 19' e Mengálvio aos 36' do 1º tempo; Spencer aos 4' e Sasía aos 6' do 2º tempo.
Santos: Gilmar; Mauro, Calvet e Lima; Zito e Dalmo; Dorval, Mengalvio, Pagão, Coutinho e Pepe. Técnico: Lula
Peñarol: Luis Maidana; Juan Vicente Lezcano e Núber Cano; Edgardo González, Roberto Matosas (Néstor Gonçalves) e Omar Caetano; Fernández Carranza, Pedro Rocha, José Sasía, Alberto Spencer e Juan Joya. Técnico: Bela Guttman
NOTA: Para a Confederação Sul-Americana de Futebol, foram jogados 51 minutos oficialmente e 39 minutos em caráter amistoso. Extraoficialmente, o jogo acabou empatado por 3x3, pois Pagão havia marcado aos 32' do 2º tempo.
O árbitro paraguaio Carlos Robles encerrou o jogo após o 3º gol do Peñarol, alegando falta de garantias de segurança, mantendo a partida até o fim porém amistosamente. No dia seguinte, os jornais estampavam "Santos, Campeão da América"... isto é, ninguém sabia que o juiz tinha encerrado a partida; isso só foi descoberto quando o mesmo apresentou a súmula...
Esta foi uma partida extremamente conturbada, com os santistas reclamando de um pênalti não marcado sobre Coutinho (11') e outro sobre Pepe. Também reclamaram que os atacantes do time uruguaio haviam atirado areia nos olhos do goleiro Gilmar no lance que valeu o gol de empate (após cobrança de escanteio) e no terceiro gol, alegavam que Sasía cometera falta em Calvet. O resultado disso foi uma enorme confusão, com o árbitro alegando ter sido atingido por uma garrafa (fato este não confirmado, após exames médicos); um verdadeiro caos no gramado, partida interrompida por 1 hora e 25 minutos, até que finalmente o jogo recomeça. 
Pagão marca o que seria o gol do título, mas o clima continua quente na Vila Belmiro... mais uma garrafa é atirada no campo, agora atingindo o bandeirinha Domingo Massaro, e aí vão mais 10 minutos de paralisação (segundo o meio-campista Zito, a garrafa teria partido da diminuta torcida do Peñarol).
Recomeça novamente a partida e Mauro derruba um atacante uruguaio fora da área, porém o juiz corre para marcar pênalti (!), porém reconsidera e marca apenas falta... em seguida, Carlos Robles encerra a partida (aos 40' do 2º tempo).
*Esta é considerada a partida mais longa da história do Santos Futebol Clube.
*O jogo também foi recorde de renda em Santos (Cr$5.418.000,00), de certo devido aos preços altos dos ingressos.
Nesta foto, vemos um jogador do Peñarol com a garrafa que foi atirada na cabeça do bandeirinha Domingo Massaro (que aparece em segundo plano). Na foto também vemos o Mengálvio.

SANTOS F.C. 3 x 0 C.A. PEÑAROL
Data30 de agosto de 1962
Local: Monumental de Núñez - Buenos Aires/Argentina
Árbitro: Leo Horn (Holanda)
Gols: Caetano (contra) aos 11' do 1º tempo; Pelé aos 4' e aos 44' do 2º tempo.
Santos: Gilmar; Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Mengalvio, Pelé, Coutinho e Pepe. Técnico: Lula
Peñarol: Maidana; Lezcano, Núber Cano, Caetano e Néstor Gonçalves; Edgardo González e Roberto Matosas; Pedro Rocha, José Sasía, Alberto Spencer e Juan Joya. Técnico: Bela Guttman




Assim o Santos se tornou pela primeira vez campeão da Copa Libertadores da América. Num encontro entre dois dos maiores esquadrões de todos os tempos, o time do glorioso manto branco levou a melhor, reforçando a crescente boa fama do futebol brasileiro, que vivia seus anos de ouro. O título sul-americano garantiu ao Alvinegro Praiano uma vaga contra o campeão europeu na disputa do Mundial Interclubes. O então campeão da Libertadores e do Mundial, o Peñarol, tinha um substituto à altura (ou até mais do que isso...).
Outro destaque do Peixe foi Coutinho, que acabou como artilheiro do campeonato, balançando as redes 6 vezes. Esta edição da Taça Libertadores foi a que teve a maior média de gols da história: 4,12 (107 gols em 26 jogos), sendo que o Santos contribuiu com 29 (27,1% do total), conseguindo uma média de 3,22 bolas na rede a cada partida jogada.

Abaixo segue um vídeo retirado do YouTube que fala sobre a final da Taça Libertadores de 1962, com direito aos gols do terceiro e decisivo jogo:


Como se sabe, uma final de Copa Libertadores é uma verdadeira guerra de nervos, num campeonato onde muitas vezes a raça suplanta a técnica. Em 1962, ambas se aliaram num time que sem dúvidas marcou o futebol mundial.
Nesta foto vemos Pelé no chão após uma dividida com um jogador do Peñarol, que aparece caído a seu lado.

Nesta foto vemos o zagueiro santista Mauro Ramos de Oliveira (capitão da Seleção Brasileira bicampeão mundial em 1962) carregando o troféu da Copa Libertadores da América.
O objeto que é alvo da cobiça dos clubes da América do Sul e que é uma verdadeira obsessão dos times brasileiros veio para o país primeiro para a Vila Belmiro.
Vale a pena reparar que o troféu ainda não tinha a base de madeira com as placas dos campeões, como é atualmente, até porque o Santos era o segundo time a conquistar a Taça, quebrando a hegemonia do Peñarol, vencendo o mesmo na grande final.


Campanha do Santos:
9 jogos | 6 vitórias | 2 empates | 1 derrota | 29 gols marcados | 11 gols sofridos | Saldo de gols: 18
http://www.rsssf.com/sacups/copa62.html [texto de José Luis Pierrend, John Beuker e Osvaldo Gorgazzi]